Escolhi para a Poesia de Quinta de hoje a poetisa cearense Rachel de Queiroz, falecida há menos de um década (em 2003) e sem dúvida um dos grandes ícones da poesia brasileira.
Esta poesia me lembrou muito uma amiga minha muito querida, que aniversariou recentemente, pois nos ensina que mesmo que tenhamos condições adversas de vida, problemas, dificuldades, sempre podemos dar um jeito de tornar a vida mais leve e mais bonita, colorida. A vida desta minha amiga é uma verdadeira poesia. Ela já teve e tem alguns problemas, mas está sempre de bem com a vida, sorridente, leve, disposta a ajudar. Esta poesia é bem solar, que nem ela. Wilma Calixto, esta poesia é a sua cara.
Reflitam sobre a beleza e simplicidade destes ensinamentos.
Beijos
Deíla
TELHA DE VIDRO
Rachel de Queiroz
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
PS: A leitura excessiva destes textos pode ocasionar dependência cultural.
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