Vista do casarão da Fazenda Taperinha
Situada na gleba Ituqui (a 80 km de Santarém), é acessível por via fluvial. De Santarém, navega-se pelo rio Tapajós até à entrada do Lago Maicá, percorrendo toda a extensão até chegar no Paraná Ayayá, onde a fazenda está situada.
Recanto natural e monumento histórico-científico, a fazenda pertenceu ao Barão de Santarém, Antônio Pinto Guimarães, no século XIX, que tomou como sócio o imigrante americano Romulus J. Rhome. Sob a administração do Sr. Rhome, que passou a residir no local com sua família, a propriedade progrediu significativamente, destacando-se dentre as existentes no município. Fronteira à casa ficava o engenho, com moinhos movidos a vapor, novidade na época. Foi na Taperinha que se construiu o primeiro barco a vapor na Amazônia, que recebeu o mesmo nome da Fazenda.
Fazenda Taperinha
O Sr. Rhome se dedicou a fazer pesquisas arqueológicas e, ao que se sabe, foi o primeiro a interessar-se por esse tipo de atividade em Santarém. Ele colecionava as estranhas figuras de barro que encontrava ou mandava desenterrar no sítio, como cabeças de urubu, galos com crista e barbela, machados de pedra, etc., e várias urnas exoticamente ornamentadas que continham ossos humanos calcinados. A coleção Rhome foi incorporada ao Museu do Rio de Janeiro, por intermédio do professor americano Charles Frederic Hartt que percorreu a região em viagens de estudo.
Em 1882, morre o Barão de Santarém. No ano seguinte a sociedade entre o Barão e o Sr. Rhome é desfeita, sendo que os herdeiros do Barão ficaram com o domínio da metade do engenho que pertencia ao Sr. Rhome, bem como os escravos da propriedade.
No ano de 1917 veio se estabelecer na propriedade o cientista alemão Godofredo Hagmann, onde instalou e administrou, juntamente com sua esposa Júlia Hagmann e, posteriormente, por sua filha Érica, a primeira estação meteorológica da Amazônia, cujo funcionamento se estendeu até a década de 70. À casa principal, com grandes salas, quartos e cozinha, o Sr. Hagmann anexou uma biblioteca.
Os sambaquis encontrados no local são bastante extensos e apresentam até 6,5m de espessura. Associadas aos depósitos de sambaquis ocorrem peças de cerâmica, cuja datação, efetuada pela pesquisadora Ana C. Roosevelt, do Field Museum of Chicago, revelou idades aproximadas de 8.000 anos, constituindo-se em uma das mais importantes descobertas arqueológicas da Amazônia, uma vez que representa a cerâmica mais antiga já encontrada nas Américas.
TAPERINHA UM ENGENHO DO TAPAJÓS: RELAÇÕES E DISCUSSÕES ACERCA DA PRODUÇÃO CANAVIEIRA, ESCRAVIDÃO, ESTUDOS DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E CABANAGEM
Wilverson Rodrigo Silva de Melo1
Antonia Eurenice Rodrigues Silva2
Vestígios da moenda do Engenho Taperinha
Fonte: arquivo pessoal. Ano: 2009
Assim como o governo português decidiu por estabelecer capitanias hereditárias no Nordeste. Há indícios de que na região Norte também houve engenhos açucareiros (apenas Taperinha será abordado) voltados em larga escala para a produção de aguardente com fins de comercialização com a Europa. A real comprovação destes indícios é que em Santarém o Barão Miguel Pinto adquiriu de D. Pedro II o título de posse de uma vasta propriedade de 42 km de área denominada Taperinha que significa ruína, casa velha ou qualidade de vida segundo os silvícolas. Com visão empreendedora o mesmo tomou como sócio Mr. Romulus J. Rhome um dos imigrantes do advento da imigração americana e que dispunha de capital para a construção do engenho. A propriedade é administrada por Graziela Hagmann, uma das herdeiras da propriedade. Aliás, conhecer o lugar depende de aprovação da família, que reside em Santarém.
Os estudos da arqueóloga Anna Roosevelt atestam que a cidade de Santarém nasceu em Taperinha. Para Anna Roosevelt apud Funari (2006. p. 80) os mongóis chegaram ao Baixo Amazonas entre 8 e 11 mil anos atrás pelo estreito de Bering e posteriormente deram origem as principais tribos indígenas amazônidas tais como os Tapajó (No Nhengatu não pronuncia-se o plural com s). Durante as expedições de Anna Roosevelt a propriedade em 1986 e 1993, a mesma lançou como teoria o fato de Taperinha ser o sítio arqueológico sulamericano mais antigo devido ter encontrado montueiros de sambaquis, vestígios de cerâmicatapajônica datados de 8 à 11 mil anos e principalmente “terra preta” que caracteriza a presença do homem préhistórico, haja vista que esta é fruto da decomposição de resíduos orgânicos depositados pelos próprios hominídeos. No entanto ficam em lócus os seguintes questionamentos; Quais as semelhanças e diferenças de Taperinha com outros engenhos? A produção canavieira era investida apenas em cachaça ou também no melaço? Que fim tiveram os escravos? Qual a relação de Taperinha com a cabanagem? Qual o cenário de relação econômica de Taperinha com a Europa? Não obstante, deixamos registradas as semelhanças arquitetônicas e estruturais entre os engenhos Nordestinos e Taperinha, que em meio a variações, assemelham-se em apresentarem: Um casarão, um complexo englobado por um engenho, uma capela, uma
A atividade econômica em Taperinha em meados do século XIX estava ligada à exploração da cana-de-açúcar para fins de produção da aguardente, a produção de tabaco para uso específico da família do Barão de Santarém, a atividade madeireira, a plantação de cacau, a produção de vinhos de laranja, caju, cupuaçu, o cultivo de hortaliças e leguminosas revestidas no consumo dos indivíduos da fazenda, além do cultivo de curauá, onde suas fibras eram investidas na produção de cordas e comercializadas na região e fora desta. Em Taperinha os negros musculosos alimentavam o dia todo o grande moinho de cana. As plantações ficavam na parte alta do terreno, onde era cortada a mão e levada para ser jogada na canaleta de zinco que as conduzia próximo a moenda, que posteriormente aplicaria o caldo na produção em larga escala de aguardente e em pequena escala de melaço. A água ardente era encaixotada e exportada para a Europa, já o melaço, principalmente para Amsterdã na Holanda onde era refinado e esbranquiçado nas chamadas “casas de Purgação”.
Além do Engenho havia uma serraria rústica onde eram exploradas as mais variadas espécies de madeira de lei, tais como: o Jacarandá, a Muiraquatiara, a Muirapixuna e o rico Pau D’arco marrom. No que se refere à Cabanagem em Santarém, o pequeno trecho transcreve com exatidão esse movimento em Santarém:
Em princípio de 1835 já a situação era sombria. Os sediciosos se espalhavam em grupos armados que assaltavam povoações, fazendas, sítios, matando, devastando, saqueando,[...] Quem podia fugir, fugia, enterrando seus haveres, jóias e objetos de valor, esperando recuperá-los mais tarde, quando chegasse o fim da guerracivil...( SANTOS, 1999. p.197-198).
O historiador, como qualquer cientista, trabalha com evidências e suposições. [...] Se não se arrisca a lançar hipóteses a partir de suposições, corre o risco de repetir o já conhecido, reafirmar o óbvio, [...] Se, por outro lado, abandona as evidências e se permite “delirar” à vontade, pode criar uma interessante obra de ficção [...], comprometida apenas com a imaginação criadora do autor. A partir disto inferimos que de fato Taperinha sofreu influências da Cabanagem, onde o trecho de Tupaiulândia afirma que na época da revolta, muitos fazendeiros e elitizados escondiam suas riquezas para não serem saqueados pelos cabanos, no engenho não foi diferente há vestígios que na Alcova da mansão havia um buraco que supostamente foi utilizado para tais fins de prevenção contra os revoltosos. Existem evidências marcantes – ao menos verbais – de que o Engenho serviu de ponto estratégico para interceptação de alimentos e comunicações entre os cabanos do interior do Tapajós, onde a guarnição militar foi enviada a região pelo 1º juiz de direito da Comarca de Santarém, Dr. Joaquim Rodrigues de Sousa. Não se pode afirmar com exatidão se a guarnição sofreu derrotas, mas pode-se inferir que ela obteve êxito ao final do movimento “popular”, onde conseguiu reprimir os revoltosos. Vale ressaltar que em 1883, a sociedade entre Rhome e o Barão foi desfeita, em virtude da morte deste, sendo dividido o engenho e os escravos pelos seus descendentes. A partir disto, muitos dos escravos de Taperinha foram trazidos e vendidos em Santarém, outros ofertados as festividades de N. Srª. da Conceição, alguns foram levados para outras fazendas e uma quarta parte foram os que conseguiram fugir e se refugiarem nas várzeas do Ituqui fundando os primeiros mocambos da região.
Quando há contato prévio, grupos, especialmente de estudantes, costumam explorar a propriedade. O local tem todas as características para o desenvolvimento do turismo científico, mas também o de aventura. Depois de uma caminhada de vários minutos pode-se chegar a um ponto bastante elevado, tido como mirante, que proporciona uma visão privilegiado de toda a região do Ituqui, assim como os lagos próximos e mesmo do rio Amazonas. Com um pouco de condicionamento físico e o auxílio de um condutor de turismo dá para conhecer parte da floresta. Com disposição, a caminhada pode desembocar num banho de igarapé, que serve para refrescar o corpo e preparar a viagem de volta.
O barco é o meio de transporte mais utilizado para se chegar ao local, mas durante o verão o acesso também se dá por meio de automóvel, enfrentando, claro, as dificuldades da estrada de chão batido. É, sem dúvida, um passeio imperdível.
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