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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A colônia perdida dos confederados



"Com este título acima, publiquei esta reportagem em 4 de fevereiro de 1990 no jornal O Liberal, de Belém. Trata-se de um assunto pouco conhecido tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Neste país, a saída de cidadãos norte-americanos em busca de outros países é um tabu, pois eles se consideram a terra prometida. Assim, a emigração, nos USA, é vista como uma vergonha. A seguir, arte do texto"

Imagens: 1) A guerra civil nos USA, o Norte contra o Sul.
2) A cidade de Santarém mais ou menos como era à chegada dos colonos norte-americanos

Ao visitar Santarém (no centro da Amazônia) na semana passada, o brasileiro-norte-americano Eugene C. Harter, 62, explicou a razão da segunda viagem à região: “I’m plowing where no one has plowed yet”, ou “estou arando uma terra que ninguém ainda lavrou”.
Essa terra ainda não arada é a pouco conhecida história dos desesperados e humilhados sulistas que viram seus campos de algodão, suas casas, cidades inteiras, e suas vidas, destroçados pelas forças do Norte, durante os quatro anos mais sangrentos da história dos Estados Unidos, na Guerra de Secessão.
  E foi em busca de novas terras para lavrar que 20 mil ex-confederados partiram para o Brasil, localizando-se em diversos pontos do Centro-Sul, Nordeste e Norte, e na mais obscura e controvertida das colônias por eles fundadas, em Santarém, no Pará, que chegou a acolher 212 norte-americanos, segundo dados de 1874, nove anos após a rendição de Appomattox.Cento e vinte e três anos após a chegada da primeira leva de imigrantes ao interior da Amazônia, Harter, descendente do grupo que foi para o Rio de Janeiro, veio lançar o livro “The Lost Colony of the Confederacy”, já traduzido como “A Colônia Perdida da Confederação”, com o subtítulo “A Emigração norte-americana para o Brasil após a Guerra de Secessão”.

Mas o desconhecimento desse fato histórico não se refere apenas às duas centenas de sulistas que se internaram na Amazônia. Somente nas últimas décadas alguma coisa vem sendo publicada, de modo esparso. Trata-se de “um capítulo em branco, tão grande é a escassez de dados positivos sobre esse estranho episódio, tão imenso é o silêncio que o circunda”, escreveu o historiador gaúcho Vianna Moog, que passou por Santarém há vários anos e esteve também na casa de Eugene Harter nos Estados Unidos. Hoje Harter vive em Chestertown, Maryland.

Falecido há poucos anos, Moog, ele também um descendente dos confederados, dedicou um de seus livros, “Bandeirantes e Pioneiros”, ao estudo comparativo entre as duas nações, tentando analisar as diferenças entre Brasil e Estados Unidos, países que, na opinião dele, tiveram tudo, ou quase, para não serem tão distintos um do outro. O caso da imigração, no livro de Moog, não passa de algumas considerações sem maior aprofundamento. Da parte dos norte-americanos, o desconhecimento tem explicação - a emigração era vista como fracasso e contra ela se levantaram todos os jornais das principais cidades do Norte que, mesmo assim, prosseguiu humilhando os sulistas após a rendição.

“Febre do Brasil”
Não fosse essa intensa campanha contra a saída dos norte-americanos e talvez tivesse ocorrido uma verdadeira diáspora, na comparação de um autor daquele País com a situação histórica do povo judeu. Há registros sobre negociações com o imperador Pedro II para acolher no Brasil cem mil ex-confederados. O freio para a fuga, entre outros, foi o fracasso da colonização intentada no México, à época sob profundas agitações políticas que culminaram no fuzilamento do imperador Maximiliano.

Protegidos do imperador mexicano deposto, os norte-americanos sofreram em algumas colônias daquele país tanto ou mais que nos seus Estados de origem, durante a tentativa de se separar do governo de Washington.Além do México, alguns grupos foram para Cuba e Venezuela. Mas foi a “febre do Brasil”, estimulada por agentes colonizadores que ganhavam muito dinheiro com a formação de grupos de emigrantes, que foi alvo dos mais duros ataques da imprensa tanto do Norte quanto do Sul. Um editorial da época vitupera: “Na noite passada, chegou ao Hotel Central (no Alabama) um grupo de senhoras e senhores que deixaram o Brasil no mês passado, profunda, total e claramente desgostosos com seus novos lares...”

Segundo o editorial ufanista, aqueles colonos retornavam por não se acostumarem “entre as massas híbridas deste superestimado, ultralisonjeado País que é o Brasil”. E prossegue afirmando que o Brasil não possuía governo organizado e que “não existe nenhuma maneira de se ganhar dinheiro”. E conclamava os cidadãos que fugiam dos tormentos, seqüelas da guerra civil, “a esquecer que o Alabama não é ainda um grande país, deixe de sonhar sobre o passado miserável, (...) permaneça em sua casa, mas trabalhe e trabalhe...”A campanha esbarrava, porém, nos depoimentos de muitos ex-confederados que já tinham adotado o Brasil como nova Pátria. Frank Shippey, um dos primeiros a chegar aqui, escreveu a um amigo de New Orleans: “Desde a rendição de nossas forças, perambulei em exílio pelas regiões mais distintas do globo, mas foi-me reservado encontrar no Brasil aquela paz que todos nós, através de tristes experiências, sabemos tão bem apreciar. Aqui, o soldado arrasado pela guerra, o parente desolado, o patriota oprimido, sem lar e espoliado, podem encontrar refúgio...” Segundo Eugene Harter, “a evidência demonstra que a maioria dos confederados sobreviveu muito bem (no Brasil) e formou um grupo audaz e ajustado”.

Crédito fácil
Em “A Colônia perdida”, Harter revela que, no dia 19 de maio de 1868, o coronel Charles Gunter, ex-plantador de algodão e pessoa de projeção no Alabama, teve uma carta sua publicada no “Charleston Mercury”. Morando e trabalhando às margens do Rio Doce, Brasil, Gunter não usava de meias palavras: “Mude-se para cá e compre terras, o que poderá ser feito através de um crédito de quatro anos, a 22 centavos por acre, melhor do que jamais vi em qualquer ponto dos Estados Unidos. (...) Com a ajuda de seus filhos, você estará independente dentro de um ano. (...) Traga todos os utensílios domésticos, exceto os artigos de madeira, muito pesados...”.

O entusiasmo do colono, ao convidar seus concidadãos para viver no Brasil, chegava a detalhes: “... Traga tantos tipos de sementes quanto seja possível, mudas de figo e uva. Com isso, não terá receio de começar...” Com a aparente intenção de contradizer a campanha difamatória contra a colonização no Brasil, Gunter afirmou: “... Com seus utensílios, ferramentas e o trabalho de seus filhos, eu o consideraria rico...” E convidava a que trouxessem tantos parentes quanto possível, pois aqui havia casas e terras para todos, num País pelo qual “a providência fez mais do que para qualquer outro”.

Imagens: caprichopritt.blogspot.com 

http://blogmanueldutra.blogspot.com/2011/03/homenagem-obama-nos-seus-dois-dias-no.html

/blogdomoura.blogspot.com

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Bandeira da ASDECON

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ASSOCIAÇÃO DOS DESCENDENTES DE CONFEDERADOS AMERICANOS NA AMAZÔNIA

Brasão da família Vaughan

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ESCLARECIMENTO / EXPLICATION

Esclarecemos que em função de erros cometidos por ocasião das escriturações nos cartórios de Santarém, durante os registros de nascimentos, diversas famílias de origem confederada (Wallace, Hennington, Rhome, Pitts, Riker, Vaughan, Jennings, etc...) tiveram seus nomes escriturados de forma errada.
A família VAUGHAN, por exemplo, assumiu algumas formas diferentes de escrituração: Vaughon, Waughan e Wanghon.
Recentemente alguns descendentes da família VAUGHAN e de outras famílias, com o auxílio de advogados e seguindo as árvores genealógicas, efetuaram as correções devidas nos cartórios locais e passaram a escrever corretamente os seus nomes.
Devido a pronúncia do nome VAUGHAN ser diferente da forma que é escrita, alguns descendentes passaram a adotar a denominação de “Von”, mas tão somente para facilitar o entendimento da leitura, sem alterar a forma de registro.

We clarified that in terms of errors committed during the notary records in Santarém, in the records of births, several families of confederates (Wallace, Hennington, Rhome, Pitts, Riker, Vaughan, Jennings, etc ...) had their names entered in wrong. The family VAUGHAN, for example, took a few different ways to book: Vaughon, Waughan and Wanghon. Recentemente VAUGHAN some descendants of the family and other families with the help of lawyers and following the tree, made the necessary corrections in notary places and began to write their names correctly. Due to the pronunciation of the name VAUGHAN be different from the way it is written, some descendants moved to adopt the name of "Von", but only to facilitate the understanding of reading, without changing the way of record.